segunda-feira, 12 de maio de 2014

Christian Boltanski - 19.924.458 +/-

Por Pedro Athie Della Manna













O artista francês Christian Boltanski recria a cidade de São Paulo em uma grande instalação a partir de caixas de papelão e listas telefônicas. O visitante se insere em uma experiência sensorial tanto visual quanto auditiva.

No momento em que adentrei a instalação a primeira sensação que me atingiu foi de estar entrando em um anorme cérebro no qual eu conseguia ouvir todos os pensamentos e sentir todas memórias que uma pessoa tivesse vivido. Andei entre os "prédios" de papelão, alguns menores e outros pouco maiores que a altura de uma pessoa. Enquanto andava procurava ler algumas das milhares de listas telefônicas coladas nos caixotes de papelão e ao mesmo tempo ouvia as diversas vozes que ecoavam no lugar. Elas eram vozes de pessoas que gravaram algumas memórias específicas para o artista e que agora faziam parte da obra "19.924.458 +/-".



A "cidade" é construída em volta de um rio artificial permanente do Sesc Pompéia, espaço onde a exposição acontece.




















Durante a exposição, enquanto entrava em contato com aquele ambiente um pouco labiríntico, o que me vinha a cabeça eram imagens. Imagens de diversas pessoas andando de um lado para o outro, conversando umas com as outras, gesticulando, interagindo. Creio que isso se deve ao fato de o tempo todo, na instalação, estarmos ouvindo aquelas conversas gravadas e olhando aquelas listas telefônicas. Era como se de fato estivéssemos em uma cidade construída e formada pelas pessoas e suas relações interpessoais. É por isso que Boltanski chama sua obra de arte total. É uma forma de arte em que todas as partes de quem a vivencia trabalham em busca de uma interpretação, "é como estar em uma piscina - estar dentro de alguma coisa", explicíta Boltanski. Estamos trabalhando os ouvidos, as mãos, os olhos, o nariz; inseridos em uma cidade artificial que é capaz recriar os sentimentos de quem vivencia a cidade real.



Além da "cidade", o artista ainda expõe números em uma placa digital que representariam os números da cidade de São Paulo e projeta imagens de imigrantes da cidade na cortina de entrada e saída do galpão. Os imigrantes de São Paulo constituem uma importante parte da formação de sua população, segundo o artista, e é por isso que não podem deixar de ser representados.  
Acho muito importante que um artista trabalhe com os limites do fazer artístico e demonstre o quão ilimitado ele pode ser, e mesmo assim, possuindo um valor estético ainda maior que o de costume. E Boltanski soube fazê-lo muito bem ao construir sua cidade imaginária a partir de suas experiências em São Paulo. Soube transmitir a sensação de constante mudança e fluxo em que vivemos nas grandes cidades de hoje em dia a partir de uma experiência única e multisensorial. 

A sensação de estar naquele local sem dúvida é única, mas um vídeo pode dar uma prévia do que seria estar lá:

*Christian Boltanski ainda possui uma sala no Sesc,onde está gravando batidas de corações os quais irá utilizar para deixar em um ilha na China para um projeto seu em andamento. 

Serviços: 
Local: Sesc Pompéia - área de convivência - r. Clélia, 93, Água Branca, região oeste de São Paulo.
Quando: Terça a Sábado - 10h às 20h/ Domingo - 10h às 18h 
Até 29/6
Quanto: Grátis



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